terça-feira, 28 de dezembro de 2010

FELIZ ANO NOVO


Nesse fim de ano não tive tempo nem pra reclamar do Natal!
Não tive tempo pra organizar a rebeldia, tempo pra pensar no que eu não gosto!
Pra protestar contra o consumismo! Contra o Cristianismo!
Esse ano ta se indo, e eu ainda não consegui listar as prioridades do próximo.
Riscar da lista o que não deu certo,
Preencher o vazio com as boas novidades.
Esse ano que passou foi tão planejadinho,
Pensado minuciosamente, querido com a mais profunda pressa.
E ao final?
Tudo o que se pensou querer foi frustrante.
Todo o planejado evaporou.
Um terremoto desabou e sujou de lágrimas o que eu queria.
Mas eu queria? Mesmo? Ah, eu nem lembro...
Só lembro de não esquecer de não pedir mais nada daqui por diante!
Não listar o que não depende de mim,
Não querer nada além do que eu mereço,
Muito menos nada aquém do que me mereça!
Vou querer me distrair e confiar no acaso!
Não é comodismo, não!
Foi distraída que reconquistei espaços importantes.
Quando a pretensão era humilde e modesta,
Reconquistei a mim mesma,
Reconquistei parte da família que minha incompreensão soprou pra longe,
Reconquistei amizades que duras verdades partiram ao meio,
Reconquistei a alegria dentro do coração por sentir que há um invasor lá dentro...
Não pediu licença! Não mandei entrar! Mas ele está ali,
E o que antes era um latifúndio de individualidade e egoísmo meus,
Hoje colhe sorrisos das surpresas, doçura, carinho, amor...
Vou esperar 2011 com o pé direito bem no chão!
Tentar dizer mais sim do que não,
Seguir o ritmo da minha canção!
E quanto ao 2010?
Enterro! Sepulto! E me torno devota a ele.
Por tudo o que aprendi, pelo que ganhei e também pelo que perdi,
Pelo que eu ganhei do mundo e pelo que o mundo ao meu redor ganhou de mim!
Cochile dentro de mim a lembrança do ano que vai...
E me acorde com muitos fogos de artifício, o ano que vem!
Com um otimismo que eu nem sei de onde veio agora:
FELIZ ANO NOVO PRA MIM, PRA VOCÊ, PRA TODOS NÓS!!!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Confissão - Nei Lisboa

A TRISTEZA PERMITIDA


(Hoje o dia está nublado dentro de mim... não estou nem pra escrever... mas a crônica abaixo me traduz claramente!) Roberta.


Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga nestas noites quentes de verão e não me importa que mil raios partam qualquer sentido vago da razão, eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.



Martha Medeiros



terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Miséria Sexual" - Arnaldo Jabor

CAIXINHA DE SURPRESA...


São muitos porquês e poucas respostas,
Sentimentos sem a exata definição,
Expectativas ainda sem garantias.
Mesmo porque o que é exato, parece estático
E este encontro têm movimentado:
os pré-conceitos, as pré-certezas, as quase-convicções.
Um menino vem de um "presente surpresa"
E dá corda à menina da caixinha de música.
Vem adoçar a pimenta,
Converter a combustão de idéias em brisa leve.
Vem escutar minhas canções,
Conhecer minhas razões.
E entre a razão e a emoção,
Agora é você quem caminha aqui ao lado.
Porque entre tantos frascos expostos por aí,
os nossos perfumes despertaram um ao outro!