quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Crise (Parte I)




Já estou convencida do acerto dos que se arriscaram em definir a minha personalidade como: uma ostra fechada, tepeêmica, em permanente crise sócio-existencial, psiquicamente aprofundada em auto-análises. Uma sentimentalóide de primeira!
Tudo bem! O problema é que a crise atinge o físico agora também!
Quando as férias se aproximam sinto algo do tipo: despedida + ingratidão.
A despedida é por minha conta (a vontade é sair saltitando como uma louca desvairada, como quando a mãe deixava brincar na rua mais um pouquinho antes de ter que tomar o abominável banho de cada dia!). Deve ser algo parecido com a carta de alforria, uma pseudo-sensação de liberdade plena, embora desamparada (os escravos perdiam, naquele contexto, o sentido de existir, em função do caráter escravocrata da sociedade, tornavam-se escravos da miséria, da falta de oportunidades). No meu caso, é pseudo-liberdade porque costumo ironizar minha condição de apenada em regime de liberdade semi-aberta (eu volto do trabalho para casa todas as noites para dormir). E de mais a mais, minha liberdadezinha tem data e hora pra acabar. São só uns breves dias de férias!
A ingratidão é sentida por conta dos que “ficam” enquanto eu “saio” para o período de férias. É que eu sempre acho pouco o tempo a que tenho direito. Assumo a dificuldade emocional em ter que voltar quando o tempo se esgota. Assumo andar pelas tabelas, em frangalhos, sendo as férias o único remédio passível de me curar!
Quem me lê pode pensar que eu odeio o que eu faço. Engano! Me saio muito bem! E gosto, mesmo não tendo sido a primeira opção...
Acontece que eu preciso de férias, só isso! Separar 2010 de 2011. Evitar este endereço. Esquecer o conteúdo dos trilhões de telefonemas diários. Instituíram 30 dias de férias, não é porque são bonzinhos, é pra reduzir o número de homicídios triplamente qualificados com requintes de crueldade cometidos por pessoas exaustas (como eu).
Não somos apenas profissionais. Somos seres amplos, dotados de vida pessoal também (quando dá tempo). Saímos, comemos, dançamos, dormimos, “di-ri-gi-mos”...
Eu to indo, aos trancos e barrancos, com a paciência de jó do instrutor que em 50 minutos repete umas 50 vezes:
“Parou? Primeira!”
“-Ué, porque que esse carro não anda?”
“Parou? Primeira!”
“Mas o quê que eu fiz de erradooo?”
“Parou? Primeira!”
Mas eu mando bem na marcha ré... e isso ele não vê!
A grande questão é: Minha bolsa foi roubada!
Silêncio...
...agenda, óculos, chaves, celular (número de celular!!!), cartão de crédito, RG, CPF, Título de Eleitor, cartão do plano de saúde, receita médica, muitas maquiagens...
Silêncio...
...Neste momento sou uma indigente, anárquica, sem qualquer rastro civil...(“caminhando contra o vento sem lenço e sem documento”) a não ser o B. O. (Boletim de Ocorrência).
Queria comprar um pacotinho de tempo, quanto será que vale? Me vendam 1 kg por favor, só pra mim, sem ter que dividir com telefone, com agenda, com nada...só meu!
Este texto só tem uma finalidade: ser uma válvula de escape, palavrear as sensações vividas, porque já estou cansada de esbofetear pessoas em pensamento!
Férias, por favor, férias, mil vezes férias...
Só a liberdade que as férias proporcionam pode me livrar da acidez do meu próprio esgotamento. A gastrite nervosa tende a se tornar crônica!

P.S. A diferença entre mim e o apenado em regime de semi-liberdade é que o apenado dorme preso e tem o dia todo livre, enquanto eu fico o dia todo presa e tenho as horas de sono pra sonhar em liberdade...
E eu nem sonho mais!

3 comentários:

  1. Gostei de te ler... uma delicia!


    Beijos,
    AL

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  2. Nunca vi ostra tão gigante, pois ainda que as letras sejam abstratas, tantas assim não poderiam caber em um pequeno cárcere... Roberta! Roberta! É como ver as margens de um oceano na praia, sabemos que é enorme, mas vai mergulhar lá pra ver se consegue conhecer tudo... Adoro ler teus desabafos!

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  3. AI ai.. e a pequena ostra tem um imenso mundo interno, que na sua ânsia por liberdade, sonha umas férias do mundo. Me leva junto nessa viagem ao infinito distante de nós mesmos?

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