quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Menino do espelho


Menino do espelho
que reflete o meu melhor,
que embaça comigo
quando as lágrimas rolam,
que rola de rir e respinga seu riso
nos rostos que o fitam,
que finca luz e brilho
nas pupilas que o encontram.
Menino do espelho
esteja sempre ali dentro,
me veja, me lance seus braços
no abraço mais humano e sincero
que já encontrei.
Menino do espelho
nunca se quebre,
nem me machuque com cacos de vidro,
que nem em sete anos,
nem em sete vidas
eu estaria curada
da dor da sua ausência.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Eu queria ser especialista...




Projetei um futuro onde estaria sozinha. Um escritório à meia luz, na companhia de uma xícara de café ou escrevendo na redação de um jornal.
Mas a riqueza da troca que as relações humanas proporciona me impediram de casar com a solidão.
Sonhei em saber tudo sobre o sol. O astro maior de um sistema macro. Que aquece, que derrete e faz tudo girar ao seu entorno.
Mas me apaixonei perdidamente pela lua em uma noite em que deslumbrava sua silhueta no céu escuro.
Quis encontrar meu lugar no mundo estudando a História. Saber porque tudo era como é e porque as coisas não eram como, de fato, não são.
Mas encontrei uma série de verdades escritas por aqueles que venceram, apenas. Por aqueles que guerreram carregando cruzes no peito, pelos que gladearam e deceparam vidas em guilhotinas medievais. E assim eu teria sido uma Joana D'Arc sem nem mesmo estar aqui enredando uma história de cinzas e fogueira.
Eu queria ser especialista, publicar artigos em revistas, ser destaque em colunas de jornal, sobressair na sapiência sobre o que não é tão habitual saber.
Mas consolando minha aparente frustração sobre a desespecialização da qual sou especialmente dotada, ouvi dizer que todo o especialista é limitado. Tem respostas absolutas sobre o menor fragmento micro-histórico do que foi tão recortado que tão somente ele vê e sabe.
Hoje eu desejo tudo!
Dedilhar violões, dançar como uma dama de um século remoto uma mistura de polca com valsa, num vestido esvoaçando flores ao vento, ou num tom musical de violino e batidas fortes marcando um quase rock in roll. Ser bem do jeito que sou.
Procuro conhecer constelações e diferenciações poéticas.
Queria me livrar das amarras padronizadas, de uma ditadura do que deve ser belo. E, ao mesmo tempo, reconhecer no reflexo do espelho o que é genuinamente belo e natural em mim e em tudo o que está a minha volta.
Ao final, sou especial quando um pouco de tudo me toca e me encanta.
Quando nada me convence em saber tudo daquilo.
Quando não sei praticamente nada de tudo o que sei.
Esta tem sido a minha especialidade!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

FIM DE SEMANA


Quando é feriado na segunda-feira, a sexta parece não ter fim.
A sexta é o meu dia mágico. Ela encerra o cansaço e enterra o ciclo ininterrupto de compromissos, responsabilidades, e por quê não dizer: de uma castidade mental.
A noite de sexta-feira libera naturalmente adrenalina. Encharca de uma ansiedade boa, da liberdade que a ausência do relógio proporciona.
A sexta anuncia um sábado recheado de vaidades, consumido em bombas de chimarrão, papos de salão, guloseimas no fogão... e ao subir no salto alto não sobra tempo pra poesia. Lá vou eu libertar minha bohemia...
É sempre assim, fim de semana tem gosto de algodão doce, cheiro de amaciante nos lençóis limpos, revive o álbum de família no abraço de vó, numa discussão com pai, numa malcriação com mãe. E de qualquer jeito, tudo transcorre bem. Dorme-se cedo da noite ou chega-se cedo da manhã.
O almoço de domingo cura qualquer ressaca e se estica até quase alcançar a sagrada fé dominical, o futebol nosso que estais no céu até dezembro, Amém!
Bastaria encerrar por aqui e sorrir pela tranquilidade e prazer sublimes do meu fim de semana. Mas os terroristas estão apostos, maquiados e sorrindo por assassinar sem nenhuma piedade a nossa breve alegria. Ditadores, tiranos, tirando nossa liberdade anunciada com a velha marcha fúnebre aos meus ouvidos: A vinheta do Fantástico!!! Meu pesadelo, minha crise existencial de fim de folga, de fim de mim, de fim de fim! Uma depressão que só vai embora na manhã de segunda-feira, quando reconheço e aceito que tudo irá desembocar, mais cedo ou mais tarde, em mais um fim de semana.
Mas isso só ocorre quando não é feriado na segunda-feira.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Esperando o MEU tempo chegar...



Em breve mais uma semana de férias...
de liberdade aos meus pensamentos,
respeito ao meu relógio biológico,
meus filmes sem hora, almoço ao fim da tarde,
café na madrugada,
eu e minhas escrituras pretendendo nos reconciliar...
Pensamentos enfumaçados (da promessa que eu não cumpri),
me perder e me achar e me entender,
e me atender! Me abrir a porta, me escutar!


E como palavras de inspiração para os dias que despontam,
trago fragmentos de uma crônica que me agrada e perturba:



"No amor, em algum momento você terá que ser ingênuo e acreditar.
Terá que largar uma vida, refazer sua vida. Terá que abandonar a filosofia pessimista, a inteligência solteira do botequim e se declarar apaixonado. Terá que ser incoerente, contradizer fundamentos inegociáveis. Terá que rasgar a certidão negativa, a proteção bancária, os manifestos de aversão ao casamento e filhos". Fabricio Carpinejar




Voltando para minha ostra encantada...