domingo, 3 de agosto de 2014

Um tanto do que me constitui

                                   

Sou uma branca de olhos, cabelos e coração negros. Na infância, brinquei de aventuras no banhado. Já fui “CDF” e conheci uma casa portuguesa “com certeza”. Sonhei em ser a Fernanda Venturini no vôlei e o Taffarel no futebol, mas desisti quando quebrei uma unha defendendo um pênalti. Aos 14 anos a treinadora falou: “- O vôlei ou o cigarro!”, não tive dúvidas, a não ser entre o Marlboro e o FREE. Chorei ao ver o Lula da Silva subir a rampa do Palácio do Planalto, na morte do Ayrton Senna e no fim do Xou da Xuxa e até hoje choro a cada “TPM”. O fato histórico mais impressionante da minha vida foi o “11 de Setembro” com todas as suas vítimas e somadas a elas estão também as do Afeganistão e as do Iraque que morrem a cada dia. Já quis me filiar ao PT, ao PC do B, ao PSTU e ao PSOL e agora sei que não sou partidária e que os fins não justificam os meios. Fiz faculdade de História, fiz amigos, fiz festa e fiz “terapia”. Já xinguei, já fui xingada, já arrumei a mochila pra fugir de casa e desarrumei ligeiro antes que alguém percebesse. Já falei o que quis e ouvi o que não quis. Já bebi tanto que vomitei depois da festa e também durante a festa e até no dia seguinte. Tenho uma pequena biblioteca e sempre que eu olho pra ela penso em como é bom ter aqueles livros pra ler o dia que for preciso... Já completei um álbum de figurinhas da Copa de 94, já acordei de madrugada pra ver o Mike Tyson comer a orelha do Evander Holyfield. Já corri pra não apanhar e já apanhei porque afrontei meu pai (eu não mereci), mas apanhei igual e disse que não doeu e por isso eu não chorei. Já comi pão com Nescau em cima da margarina. Já fiz curso de manequim e modelo (melhor nem tentar entender isso...). Agora faço um curso de LIBRAS porque o silêncio das políticas públicas para a educação de surdos “ecoa” no tímpano da minha insatisfação com uma educação inclusiva que, inclusive, não inclui. Usei uma fantasia de carnaval na minha formatura da pré-escola e até hoje minha mãe não explicou porque isso aconteceu. Já me despedi de pessoas importantes e isso dói, já sofri por amor e isso dói, já bati uma unha encravada e isso dói, mas hoje tenho uma “farmacinha” que eu amo e me tornei suavemente hipocondríaca porque existe, sim, remédio pra tudo (na dúvida uso sempre anti-inflamatórios), o segredo é não ler a bula, jamais! Já tomei fora, já “pulei fora”, já traí, já perdoei, já me enganei. Minha roupa preferida é uma camisa florida de uma avó que morreu em 1982. Nasci em 1984, por um ano perdi de ver o Grêmio ganhar o Mundial. No meu primeiro acampamento minha carona não foi me buscar, nunca mais acampei, não gosto de insetos mesmo... Aos 12 anos ganhei uma galinha de rinha de aniversário do meu vizinho e batizamos ela de Titica e bem depois ganhei um pato deficiente físico do velho que alugava o pé de jabuticaba pela temporada. Meu grande luto foi a morte da “Preta” que diziam ser meio poodle, mas eu tinha minhas dúvidas e depois o assassinato da Titica que eu desvendei porque, infelizmente, o crime não foi perfeito (minha mãe devia ter sido indiciada por me fazer comer a vítima sem saber). Gosto de sol, gosto de praia, gosto de ver a galera gritando “- Cala a boca Galvão!”, gosto de camarão, de feijão, de ovo frito, de flor do campo, de escutar música alto, de tomar chimarrão, de família reunida e do meu ‘cheirinho de criança’ que eu uso mesmo já sendo adulta. Escrevo certo por linhas tortas, me animo com idéias diferentes, gentes diferentes, cores diferentes. Acho que o “certo” não existe, só o que é bom pra cada um, mas não tenho certeza. Não creio, não rezo, só tenho medo é de fantasmas!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

ALTOS E BAIXOS (Roberta Sá)

Porque ser HUMANO é uma inconstância, um altos e baixos, uma nova coqueluche a cada dia...
"POBRE FELIZ DE MIM".








Altos e Baixos
Roberta Sá

Eu tô botando dúvida
Eu tô botando defeito
Eu tô prestando pra nada
Tô ficando obsoleto de mim
Ficando absolutamente não afim

Eu tô na crista da onda
Eu tô fazendo sucesso
Tô no topo do cristo
Sou motor do progresso
Faço tudo pra chegar no primeiro lugar
Que eu nem sei onde é
Mas deve ser melhor do que aqui

Eu fico frio de medo
Eu fico cheio de dedo
Eu tô prestando pra nada
Tô querendo me livrar de mim
Eu fico transparentemente não afim

Eu sou herói do momento
Eu sou a capa da veja
Sou tampa de crush
Sou a loira da cerveja schin
Eu sou a nova coqueluche do inverno
Pobre feliz de mim!

Eu fui tirado do time
Tô em regime de fome
Eu tô prestando pra nada
Tô perdendo a validade de mim
Eu fico aparentemente não afim

Eu tô na crista da onda
Eu tô fazendo sucesso
Tô no topo do cristo
Sou motor do progresso
Topo tudo pra chegar no primeiro lugar
Que eu nem sei onde é
Mas deve ser melhor do que aqui

Eu tô botando dúvida
Eu tô botando defeito
Eu tô prestando pra nada
Tô ficando obsoleto de mim
Ficando absolutamente não afim

Eu tô nadando em dólares
Eu fiz o gol da vitória
Eu sou o centro da história
Eu sou o aço da votorantim
Eu sou jesus tirando férias no inferno
Pobre feliz de mim!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Encontrei o pai do meu primeiro livro!


1971. Anos de chumbo liderados pelo carrasco Emílio Garrastazu Médici. Com 9 anos de idade, a vida de Marcelo Rubens Paiva é alterada para sempre pela ausência do pai, seqüestrado, torturado, morto e desaparecido nos porões da ditadura, e sem que nunca, até então, os militares tenham confirmado o assassinato e entregue o corpo para a família velar. Não é um caso isolado, infelizmente, e é por isso que a Comissão Nacional da Verdade foi criada em 2012 para apurar crimes e desaparecimentos do período. Eu só vou nascer em 1984. Já conheço um habitat que se encaminha para a redemocratização via Sarney (importante salientar o caráter fétido da liderança, efetivada pelo vice-presidente eleito que foi o que ficou VIVO e que está vivo até hoje – QUE COISA!). Só sei o que é sentir prazer em uma leitura a partir dos idos de 2000, quando me deparei com um capa dura envelhecido, cheirando a mofo e naftalina. Uma ilustração um tanto pessimista: Uma taça caída e quebrada, o provável champagne derramado e cacos de vidro estraçalhados ao redor. E eu, que antes só tinha lido ou ouvido falar em réveillons e feliz ano novo, me surpreendo com o Feliz Ano Velho – Marcelo Rubens Paiva.  Senti uma contemporaneidade tão vibrante na escrita e um drama tão latente naquela realidade, capazes de também me fazerem sentir paralisada do pescoço para baixo. É um prazer tardio, eu lamento, mas ainda assim é um prazer que valeu a pena por toda a espera. Em certa medida, o meu prazer e encantamento estão ligados à dor e ao drama vividos e escritos por Marcelo Rubens Paiva. Mas este encontro já foi há tanto tempo que eu talvez nem devesse estar tentando lembrar das minhas impressões, não fosse pelo fato novo divulgado ontem pela imprensa, de documentos confidenciais encontrados que põem fim a uma angústia familiar e que podem ser o começo de um encontro com a verdade, a memória e com sorte, com a justiça. Pelo amor literário que ganhei com o livro, sinto que ele talvez não tivesse existido se lá atrás, em 1971, o crime não tivesse ocorrido, e lá em 1982, o livro não tivesse sido publicado. E sabendo agora das recentes informações agregadas à história, fico tocada pelo fervilhamento de sentimentos e idéias que isto provocaria no meu jovem autor/personagem. Pelo compromisso com a História, sinto um otimismo no sentido de resgatar hiatos obscuros da memória historiográfica oficial. E pela espera(nça), sobretudo por    Justiça, me emociona pensar na vivacidade da dor e do luto (que depois do preenchimento de certos critérios como ter a certeza de morte e um corpo para despedir-se) pode finalmente ser concluído. Enquanto pessoas insistirem na memória, no não esquecimento, haverá procura e demanda por verdades e haverá a possibilidade de se fazer justiça. Eu queria que o Marcelo Rubens Paiva escrevesse, um dia, sobre um feliz ano novo. Não porque eu pense que todo livro tenha de ter um final feliz e espere que ele um dia saia andando com seus movimentos todos recuperados, mas porque a memória de um pai recebeu a dignidade de ser arquivada com o devido respeito que ela merece.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Baby - Os Mutantes

Porque este poderia ser o som permanente de fundo do blog.
Porque é lindo, épico e contemporâneo.
Porque... baby...



Você precisa saber da piscina
Da margarina, da Carolina, da gasolina
Você precisa saber de mim
Baby, baby, eu sei que é assim
Baby, baby, eu sei que é assim
Você precisa tomar um sorvete
Na lanchonete, andar com gente, me ver de perto
Ouvir aquela canção do Roberto
Baby, baby , há quanto tempo
Baby, baby, há quanto tempo
Você precisa aprender inglês
Precisa aprender o que eu sei
E o que eu não sei mais
E o que eu não sei mais
Não sei, comigo vai tudo azul
Contigo vai tudo em paz
Vivemos na melhor cidade
Da América do Sul, da América do Sul
Você precisa, você precisa
Não sei, leia na minha camisa
Baby, baby I love you
Baby, baby I love you

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Chega de saudade


"Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo
Um sorriso sincero, um abraço,
Para aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade"...
 
Já passa da hora de abrir as janelas e deixar o sol entrar no blog outra vez. Quanta saudade! Seis meses de vida intensa e de coração sempre quente. De inverno ameno e de espera por ondas. Meses de transformação e também continuidade. Aqui estou, querendo sentir novamente a saciedade que as letras, no papel e na tela, me entregam ao coração.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Rita Lee, para a despedida!

Enquanto eu ainda não consigo escrever um post sobre a morte da avó mais delicada do mundo, eu deixo a Rita Lee cantando, pra eu pensar e repensar em: viver, em despedir-se com sabedoria, em morrer...
A gente paga um preço alto por "amar" pessoas, e só contabiliza o "apreço" por elas, pelo tamanho da saudade que deixam em nós. Sustentar o ateísmo é difícil quando nos confortaríamos em pensar que quem amamos estará no paraíso. Mas me mantenho convicta! Te amei muito e amo (tanto quanto) a saudade de ti agora, minha pequena Eva!



Coisas da Vida (Rita Lee)


Quando a Lua apareceu,ninguém sonhava mais do que euJá era tarde, mas a noite é uma criançadistraída.Depois que eu envelhecer,ninguém precisa mais me dizercomo é estranho ser humano nessas horas de partida.
Ah, é o fim da picadaDepois da estrada começa uma grande avenidaNo fim da avenida, existe uma chance, uma sorte, uma nova saída.Qual é a moral? Qual vai ser o final dessa história?Eu não tenho nada pra dizer por isso digoEu não tenho muito o que perder, por isso jogoEu não tenho hora pra morrer, por isso sonho
ah, ah, ah...
Ah, são coisas da vida...Ah, e a gente se olha e não sabe se vai ou se fica...Ah, são coisas da vida...Ah, e a gente se olha e não sabe se vai ou se fica...
Ah, são coisas da vida...Ah, e a gente se olha e não sabe se vai ou se fica...Ah, são coisas da vida...Ah, e a gente se olha e não sabe se vai ou se fica.

quarta-feira, 7 de março de 2012

TABULEIRO


O que é que nos acomete à obscuridão do medo?
Medo que nos paralisa e aprisiona na incerteza de respostas.
Respostas que não encontram sequer as perguntas que as originaram.
Origem que não encontramos ao início da própria essência.
Essenciamos a excentricidade de nos percebermos inacabados e incompletos.
Somos uma enciclopédia particular e íntima
ou um álbum de figurinhas tentando se completar?
A figura que falta no álbum de alguém
ou colecionadores garimpando as próprias páginas em branco
dispersas no todo?
Seremos o núcleo ou o átomo todo?
A partícula, a gota respingada do oceano?
As peças do tabuleiro se movem sempre sob efeito de duas forças antagônicas.
Pudera...
Fossem todas para a mesma direção
E não havería nem duelo nem acordos de paz,
Nem perguntas, nem respostas.

Roberta Santos
05/03/2012.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Roberta Sá - Pavilhão de Espelhos

Querido blog,

As férias, tão aguardadas, chegam em 2 dias.
Saudade de me sentir mais tempo por aqui.
Mas muita saudade do mar...
Depois disso é que o ano começa de verdade.

Pela saudade:
"...tô aqui só pra saber que existe saudade, ainda bem..."

Roberta Sá, lindamente...

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Efêmera - Tulipa Ruiz

Um daqueles achados musicais que a gente comemora quando encontra.
Letra e música para deliciar-se:



Efêmera Tulipa Ruiz

Vou ficar mais um pouquinho
Para ver se acontece alguma coisa
nessa tarde de domingo
Congele o tempo preu ficar devagarinho
Com as coisas que eu gosto
e que eu sei que são efêmeras
E que passam perecíveis
E acabam, se despedem,
mas eu nunca me esqueço
Vou ficar mais um pouquinho
Para ver se eu aprendo alguma coisa
nessa parte do caminho
Martelo o tempo preu ficar mais pianinho
Com as coisas que eu gosto
e que nunca são efêmeras
E que estão despetaladas, acabadas
Sempre pedem um tipo de recomeço
Vou ficar mais um pouquinho, eu vou
Vou ficar mais um pouquinho
Para ver se acontece alguma coisa
nessa tarde de domingo
Vou ficar mais um pouquinho
Para ver se eu aprendo alguma coisa
nessa parte do caminho.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Pagu (Maria Rita)

Sempre bom ouvir, mais ainda lembrar:

"MINHA FORÇA NÃO É BRUTA,
NÃO SOU FREIRA, NEM SOU PUTA.
NEM TODA A FEITICEIRA É CORCUNDA,
NEM TODA A BRASILEIRA É BUNDA,
MEU PEITO NÃO É DE SILICONE,
SOU MAIS MACHO QUE MUITO HOMEM"...


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Silêncio da Ostra



Eu espero o teu perdão
O sim do não. Coração.
Tento lembrar teu abraço
Um cigarro. O maço.
Acompanho pela mídia
Teus passos. Espaços.
O destino não tem alma
Existe? Persiste a procura.
A cura? Respostas sem sentido.
Aperta o peito. Saudade.
Congelo o tempo. Respeito.
Lágrimas no rosto. Elas falam.
São as lágrimas que dizem
O que não diz no dicionário.
Se é triste, também é belo,
Mais ainda o que silencia.
De longe, dos trilhos do trem,
Do passado que faz falta
Gelo e silêncio. Maré alta.
Vento e contemplação.
Mesmo o que é só lembrança
É fato no peito que o sente.
Desmente. Consente o abstrato
Da vida que virou passado
E insiste em ser memória.
Um passo de dança. Vida e coração.


Roberta Santos

22.01.12