quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

FELIZ ANO VELHO

Plagiando o título do primeiro livro importante que li na vida (importante porque marcou minha adolescência), me despeço de mais um destes intervalos de 365 dias que alguém batizou de “ano”. Mas esse não foi qualquer um!
Vou começar de dentro pra fora, porque eu sou de dentro pra fora. Sou sentimento, sou analista técnica do que eu penso, sinto, falo, ouço, desejo... E vou chamar 2011 de “Revolução do Cactus”. A minha própria revolução! O cactus, é claro, sou eu (se um dia pudesse ser uma flor, seria uma flor de cactus). E não há historiador que conteste o caráter revolucionário, porque houve, sim, transformação de vida! Família. Era uma vez uma família fragmentada por uma das pragas sociais mais bem aceitas no convívio global. Ela deixou de ser um “núcleo” familiar e estourou como um meteorito, rolando suas pedras para todos os lados. Uma sina infeliz pra quem escolheu compô-la, uma chaga paralisante pra quem só pegou carona sem perguntar o destino. Isso muda. Tudo passa. Passa o que é bom, passa o que é ruim. O alcoolista jamais estará curado, mas esta chaga é tratável, de manutenção contínua, onde aqueles que já quiseram sair correndo sem nunca mais passar perto, é que são o mais santo remédio. Está medicado. Já é um homem com dignidade e auto-estima em recuperação. Tudo passa. Passa o que é bom, passa o que é ruim. Isso modificou muita coisa em casa, as pessoas todas do entorno estão se modificando juntas, reciclando conceitos sobre uma vida toda. Eu apoio e me agrado profundamente por esta causa. Do direito de ir e vir. “Espera por mim que eu vou, espera por mim, amor”! É dose de liberdade, dose de autonomia, dose de responsabilidade adulta, dose de felicidade aguda. Não vou de ônibus, não vou de táxi, não vou nem caminhando com a brisa soprando o rosto. Mo-to-ri-za-da! Arranco com tudo, apago, acelero, manero na lombada pra respeitar o direito que ainda é provisório, mas o prazer de dirigir já é permanente e aderente em mim. Um feliz ano velho, ano em que me tornei motorista da minha vida. E para acrescentar ao gozo de uma parte da vida materialista, eu não “vou”, apenas, eu “moro” na minha vida. Uma moradia em construção, assim como é a existência da gente, sempre se construindo, a cada dia, a cada laje, tijolo por tijolo. Desculpa o papinho de construtivismo, mas é tão bom saber que as chaves estão a caminho, que são caras e demoradas, mas que são minhas. Profissão: Sopram ventos com novos uivos, novas melodias, novos aromas e temperaturas. Vou preparar meus objetivos gerais e específicos, meus cronogramas. Espero ansiosa pela minha turma. Não sei se eu vou estar sentada na classe dos alunos ou desajeitada no púlpito docente degustando acertos e decepções com o próprio rendimento. Mas a expectativa é grande e aguardada com todo amor pelo “como será?”. Amor. Que sentimento mais impregnado de lendas que a gente custa a entender e aproximar da realidade. O amor que eu sinto é imperfeito, mas é tão bonitinho que eu embrulho bem, e levo comigo pra casa todos os dias. É como os “amores-perfeitos” de verdade, colorem e perfumam quando o solo está fértil, mas precisa de sol e meia sombra ao mesmo tempo. Eles enfeitam aos olhos e cheiram bem ao coração. Eu estou amando um amor de verdade, de pedras no caminho, como são todos os que não nasceram de contos de fadas, mas de vidas reais. Um dia eu quero escrever um livro sobre a minha vida. Não sobre tudo o que eu já vivi, mas sobre tudo o que eu senti quando estava vivendo. Assim é mais fácil deixar as tragédias passadas serem mais belas. Sentir a vida e o mundo, entender com os olhos do coração. Eu choro pelo que é doído, mas brindo muito pelo que faz sorrir. O meu maior agrado ao paladar já está gelando. Doce, suave, borbulhando bolinhas loucas pra alcançarem meus lábios. É só mais o fim de um ano. Estouro a champagne por um ano que já está velho e que foi delicioso, implanejavelmente bom, cheio de verbos e rimas tortas, gratinado de poeira e saudade pelo que é, pelo que foi. Que seja eterno na minha memória, pra um dia eu estar velha e de cabelos brancos, brindando com a mesma taça suada de líquido espumante, todas as vitórias e derrotas, e as lágrimas salgadas e ardidas, e os sorrisos de dentes brancos. Eu não comemoro o ano que vai vir, comemoro o que terminou. Acho que por isso é que escolhi cursar História. O futuro eu desconheço, mas aprendi a amar e respeitar o passado. Entendi que tudo o que ainda há de vir, depende do presente. Adeus, 2011. Sentirei saudades, mas o tempo não pára, e eu nem queria que parasse mesmo. Quero colecionar mais e mais histórias no meu próprio passado, que hoje ainda é futuro.


(P.S. A capa do meu "Feliz Ano Velho" é uma taça caída e quebrada, com trágicos caquinhos de vidro estraçalhados, optei por essa outra versão mais amena para uma postagem reflexivamente otimista).


Roberta Santos

15/12/2011.

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