sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

ZÉ LEE

Tem coisa que não é coisa qualquer. Coisa que a gente compra, que a gente ganha, que a gente visita, que a gente gosta. Tem coisa que marca a vida da gente, que deixa ela mais bonita, coisas que conferem identidade e autenticidade pra gente. Coisa dessas, é a preferência musical, que se organiza de uma forma hierárquica na nossa pirâmidezinha sonora. Músico, compositor, violeiro, cantador, espirituoso, visionário, poeta, astrólogo e de infindáveis descrições e concepções pra quem ouve: ZÉ RAMALHO. Uma idolatria que vem de mais de década. Um enfeitiçamento por aquela voz mais incógnita e penetrante que meu tímpano já sentiu. Figurinha ismilingüida, de olhar pequeno escorado num rosto desnivelado, que deixa claro: cada ruga, cada linha desenhada no semblante, deve ter uma história pra contar. - Zé, você sempre me ganha! Por mais que eu tente renovar o repertório e o artista, acabo sempre contigo! É fácil deixar aquele vozeirão masculino me levar todinha descalça pra um "Chão de Giz", pra um "Táxi Lunar". A realidade só volta quando ele me conta e me canta sobre a "Vida de Gado" que a gente leva. O Zé místico, embrulhado numa bela bata acetinada preta, aqui, pisando o mesmo chão que eu piso, foi um dos quereres que eu mais persegui. Meu número um.
Mas agora abro um parêntese pra protestar contra a elitização e piramidização social do público nestes eventos musicais recentes. É tudo setorizado, basta pagar um salário inteiro do mês e colocar a nádega confortavelmente num trono macio para assistir o seu artista cantar. Não tem dinheiro? Prefere um investimento mais tímido? Não há problemas, acomode-se como preferir na base da pirâmide. Tem um quilômetro separando você do seu ídolo, mas terás diversão garantida! Show é show! Não é teatro, não é palestra, convenção. É um lugar socializado por todos que quiserem estar lá. Foi assim em toda minha adolescência de tietagem; os mais fãs que os fãs, chegam cedo e se aproximam mais do palco, sem todo este circo de filtros financeiros com valores babilônicos que envolvem uma apresentação musical. Fecho parêntese.
Eu elenco, com o coração apertado, incapaz de decidir quem ocupa o segundo lugar da minha lista de prestígio, portanto, com empate técnico: Caetano, Chico e Lenine, em nível nacional (porque a galera da MPB gaúcha tem a própria colocação). Qualquer, destes três prazeres, me divertiria. Mas é aí é que vem a surpresa. Aquela que nem está na lista, mas que está sempre na minha entrelinha de idolatrismo, quem eu jamais imaginei ver nesta província, mais ismilingüida ainda, questionável quanto à presença de glóbulos vermelhos no sangue, sem resquício de melanina na pele. Não acreditei quando li o "LEE" da Rita. Rita Lee! É mole?! Ela já agrega as garantias do estatuto do idoso, com 65 anos, limpa, limpinha da Silva Lee, sem mesmo nicotina ou álcool, arrebentando no palco com a entrada: "Agora Só Falta Você". - Eu jamais faltaria, Rita! Acho que tu não estava na lista porque era utópico demais te querer aqui. Mas sempre vais ser a maior das minhas divas. Eu vi tua cabeça de fogo vermelho lá do fundinho, eu e meus amigos (teus fãs). Te devoramos e cantamos contigo, lá de longe, todas as tuas canções, até aquelas que tu nem cantou. São tantas! Foi incrível testemunhar ocularmente estas duas figuras célebres da minha vida: ZÉ e LEE.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Goste ou não... deixe seu comentário!